quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ÀS VEZES

             você me olha com cara de coitado, jeito de menino bobo que não sabe onde se esconder. Me olha e encara. De vez em quando sonho com você, com essa voz meio engraçada, e tem toda aquela coisa de querer ouvir de novo, de de novo querer sentir e sorrir com o seu tom, o seu jeito, os trejeitos, os versos e manias. Então leio e engulo as palavras afiadas, como facas de pontas finas, bem cuidadosas na hora da morte. Engulo e depois cuspo, transformo em outros dizeres, sonho com outros prazeres, invento novos erros e recomeço por novos caminhos, caminhos cheios de espinhos que não deixam espaços para perdão. Talvez você me encontre pela metade, quem sabe com metade dos sonhos antigos, ou quem sabe já vazia, sem nada. Mas é que, me desculpa, tem toda aquela coisa de orgulho ferido que mantém a boca calada, toda aquela coisa de medo que faz as pernas travarem. Então pelos próximos minutos eu não te procuro. Me corto com os espinhos. É engraçado esse seu jeito de escrever. Você sabe que me irrita um pouco - ou, sei lá, já deveria saber. Mas nem deve. É isso, então. É isso que sou. Isso que eu sinto. Chega desse seu sorriso com uma pontinha de tristeza nos cantos, das mãos tortas que se fecham justamente quando mais precisam de apoio, do jeito de escrever como se fosse poeta. Poesia até existe, mas não é disso que se vive. Sinto muito por dizer. Sinto tanto. Mas é isso. E você sabe, enfim. Sempre soube.


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